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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Educação Rural: Narrando Experiências e Impressões.

Educação Rural: Narrando Experiências e Impressões.
Raphael Guilarducci.

Historicamente a Educação Rural não tem se destacado entre os planos de investimento do governo e nas discussões e grades curriculares dos cursos de formação docente. Isso nos remete a um grande problema, tendo em vista que uma parcela significativa da população brasileira estuda em escolas situadas em zonas rurais.
Há em nosso país um esquecimento dessas pessoas, em uma sociedade capitalista cada vez mais preocupada com a produção de bens de consumo, rodeada por uma lógica exacerbada de trabalho, simplesmente os olhares não enxergam os sujeitos do campo. Com a disciplina Fundamentos da Educação Física Escolar, tivemos a oportunidade de discutir e experimentar a prática docente em uma escola rural, de forma ligeira, mas que se constituiu como uma experiência extremamente válida para o nosso processo de formação como professores.
Confesso que tive uma resistência quando a proposta de visitarmos uma escola rural foi apresentada na disciplina. Alguns relatos sobre os comportamentos dos estudantes das escolas rurais como crianças carentes, com histórias de vida extremamente complicadas, num primeiro momento não me tocou. Tenho contato com uma escola de periferia há aproximadamente dois anos, e diante desses relatos imaginei que encontraria sujeitos semelhantes aos que tenho convivido na Escola Estadual Dora Mattarazo.
Na periferia alguns jovens manifestam suas angústias e carências por meio de uma rebeldia e resistência as normas impostas pela escola e família. Essa transgressão a meu ver é algo natural, que demonstra que aquele sujeito faz suas próprias análises e interpretações das relações sociais. Ao chegar à escola rural imaginei que encontraria comportamentos parecidos com os jovens de periferia que passam por dificuldades semelhantes as dos alunos da Zona Rural.
Para minha grata surpresa me deparei com alunos extremamente educados e receptivos. Não só o comportamento dos alunos me chamou atenção, a direção e os professores da escola nos receberam de uma forma que jamais tinha sido recebido ao visitar uma instituição escolar. Nesse momento percebi o quanto havia lançado um olhar preconceituoso para a escola rural, e para os sujeitos que compõem aquela instituição, professores, funcionários, alunos. Esse olhar preconceituoso diria que é algo comum a quem nunca teve a oportunidade de conhecer o elemento a ser estudado, analisado. Dessa experiência guardarei a importância de tentarmos nos livrar dos preconceitos, para que possamos de fato atingir um grau de compreensão, mesmo que mínimo, e de acordo com as nossas possibilidades. Tenho consciência de que visitar duas vezes um espaço escolar não me permite uma grande apropriação e entendimento de tal ambiente, mas ao mesmo tempo esses dois contatos mudaram completamente a visão que havia preconcebido.
Durante a aplicação das aulas fiquei angustiado com alguns relatos do professor de Educação Física da escola, ele nos contou algumas histórias de vida de seus alunos. Algumas daquelas crianças sofrem abuso sexual, são forçadas a trabalhar desde os seis, sete anos, outras vivem em condições precárias. Essas condições de vida marcam as expressões dos alunos.
Identifiquei nos alunos olhares e expressões de alegria que se manifestavam durante a aula. Não posso afirmar, mas me arrisco a dizer que talvez a aula de Educação Física seja um dos únicos momentos em que aquelas crianças exploram o lúdico. Por trás da expressão de alegria, se escondia uma tristeza, uma necessidade de atenção, de ser ouvido e valorizado, principalmente por parte das meninas. Questões de gênero marcaram as aulas, onde a tendência era de uma marginalização do sexo feminino.
Senti uma incapacidade de tocar aqueles sujeitos, fazer da aula um espaço de diálogo com a realidade deles. Foi como se tudo que tivesse lido não desse conta das demandas que estavam impostas. Constantemente discutimos a barbárie, como Auschwitz, maior barbárie da história da Humanidade. A barbárie não se restringe a grandes acontecimentos históricos ela está presente no cotidiano dos sujeitos, ela está presente em uma pequena escola de zonal rural. E se Auschwitz foi um marco para a sociedade como algo que jamais poderemos aceitar que se repita, a barbárie que ocorre nas vidas daquelas crianças não tem o menor destaque, ela ocorre no silêncio dos sofrimentos dos sujeitos.
            Diante disso a responsabilidade em ser professor é imensa, pois não podemos fingir que está tudo bem e apenas aplicar as aulas sem dialogar com a realidade dos sujeitos. Ao mesmo tempo há uma sensação de impotência, os problemas evidenciados na Educação Rural e nas vidas daqueles estudantes são extremamente complexos, e não podemos esperar soluções imediatistas. Acredito que um bom caminho seria o de se estimular a reflexão desde as séries iniciais e de acordo com a maturidade dos alunos pautarmos assuntos que são silenciados por gerar mal-estar, como pedofilia, violência sexual, trabalho infantil entre tantos outros. O caminho que apresentei fica apenas no plano das ideias, não sei como ele se desenvolveria na prática, se seria o suficiente para formar os sujeitos. Infelizmente não tenho uma solução para tais problemas, mas ao menos estou ciente da existência desses problemas e espero que em minhas futuras atuações como professor possa contribuir, mesmo que de forma mínima e limitada, na formação e esclarecimento dos alunos.

 

   
    

Visita a escola rural de Itirapuã


Posso destacar vários pontos positivos  na visita e intervenção à escola rural de Itirapuã, antes de mais nada aquele “ambiente” que visitamos é um lugar inusitado, digo isso não do ambiente escolar, mais sim do modo de vida de cada estudante de lá. A  educação oferecida à eles também é um pouco diferente, não por causa de situações precárias pois ao contrario do que pensei a infra estrutura da escola é bastante estável, mas essa educação que se difere das demais se dá justamente pelo contexto cultural dos alunos. Observei que aquele estereótipo de “jeca” que é colocado em crianças de zona rural é inexistente ali, pois as crianças expressão muito bem tanto corporalmente quanto verbalmente, com exceção de algumas crianças que tinham certo grau de autismo. Um fato que me chamou à atenção e me entristeceu bastante é o de alguns estudantes sofrerem  de estranhos ou dos próprios pais assédios sexuais, e me fez ver que monstruosidades onde presenciamos apenas vinculada pela mídia está acontecendo em alguns quilômetros  da “nossa realidade”, e que provavelmente (infelizmente) vamos lidar com situações como está em nossa vida docente.
Esses foram os pontos que observei que mais colaboraram com minha formação, quanto à intervenção não me cabe uma avaliação precisa, pois a intervenção junto a outros momentos que concretizei esses pensamentos que já foi colocado, a única coisa que a intervenção possibilitou aos alunos foi uma vivencia inusitada na aula de Educação Física, e espero que alem do divertimento essa vivencia possibilitou um novo conhecimento aos alunos, apesar de eu ser da opinião que para isso precisa de um processo que leve tempo e aulaS.
Para terminar essa visita me possibilitou também um pensamento, de que muitas escolas são parecidas fisicamente, porem todas são diferentes quando comparadas o “contexto cultural dos sujeitos” e se esse pensamento estiver correto tenho duas considerações à fazer, a primeira é que devemos tomar consciência disso (quando professor) e prepararmos aulas a partir daquele contexto cultural e a outra é o modo de avaliação do governo quanto ao “nível” da escola, pois o governo aplica nas escolas publicas “avaliações” escritas, porem não leva em considerações fatores culturais, pois aplicam “avaliações” idênticas de norte a sul.


Lúcio Flávio Santos Magalhães
                 Ao cursar a disciplina “Fundamentos da Educação física escolar” no curso de Licenciatura em Educação física da UFLA, foi proposto aos alunos que fizessem uma visita a alguma escola rural e posteriormente aplicassem uma aula nessa escola. Diante essa proposta a escola escolhida para a visita foi a “Escola Municipal Édio do Nascimento Birindiba”, localizada na região da Estação Ferroviária de Itirapuan /Lavras.
            No primeiro contato realizado com a escola, onde fomos muito bem recebidos tanto por professores, secretários, diretores e também pelos alunos, percebemos muitas das dificuldades encontradas pelos professores que ali atuam, como por exemplo, a rotatividade dos horários, que fazia com que o professor de Educação física muitas vezes chegasse a escola sem saber em quais turmas ele teria aula, tornando assim quase impossível o planejamento pedagógico, que por si só já é um grande problema devido a falta de material bibliográfico que auxilie a sua construção em um contexto rural e, também devido a má formação de professores para atuarem no campo, pois durante todo o curso, raramente se ouve falar em educação física rural, e se ouve muito menos a respeito da forma como se deve trabalhar em tais locais, onde os alunos vivem  em uma realidade diferente dos alunos da escola urbana.
            Mas mesmo diante do pouco contato que tivemos com a escola e com a falta de apoio bibliográfico, tentamos construir uma aula que fizesse sentido para aquela população, dessa forma, identificamos em uma conversa com o professor, que alguns conteúdos como o vôlei e o basquete não eram trabalhados na escola devido a falta de material. Assim trouxemos para nossa aula um jogo de bola com as mãos, utilizando como materiais barbante e bolas de plástico. Buscamos com isso construir uma aula lúdica, devido ao fato dessas crianças não terem muitas vezes um espaço para a ludicidade em seu cotidiano, assim também como mostrar que professores e alunos não precisam ficar reféns da falta de materiais para construírem as aulas. No geral a aula correu normalmente, mas vale o destaque para a dificuldade de meninos e meninas realizarem juntos a mesma atividade, chegando ao ponto de uma menina se retirar da brincadeira aos prantos devido ao fato de um colega xingá-la por ela ter errado um lance.
            No geral foi uma experiência interessante pelo fato de conhecermos uma realidade diferente da que estamos acostumados e também por termos tentado realizar uma intervenção nessa realidade, sentindo através dessa intervenção toda a dificuldade que é trabalhar com alunos que muitas vezes não tem o mínimo em casa e vêem na escola um local de refugio da dureza de seu cotidiano.         

                

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Educação Física no contexto rural

Ao utilizamos o termo “rural”, nos remetemos ao que é relativo ao campo, ao sistema agrícola. Quando discutimos sobre educação rural, vemos um sistema composto por fragmentos da educação urbana introduzida no meio rural, na maioria das vezes precário na sua estrutura e funcionamento. Vemos uma instituição escolar que passa valores de uma ideologia urbana que subordina a vida e o homem do campo. As políticas e projetos de educação rural que buscam "fixar o homem a terra" não são efetivos, uma prova disso é a grande movimentação de rurícolas que abandonam o sistema agrícola em um movimento de êxodo rural desde o período pós II Guerra Mundial até os dias de hoje.
Uma educação rural adequada à cultura e ao "homem do campo" precisa ser um elo entre outros elementos de uma política efetiva de redistribuição da propriedade fundiária e de garantia de justiça social entre os trabalhadores rurais. Fora destas condições, conteúdos, currículos e tipos de escolas e ensinos "rurais" são propostas, no geral, inadequadas, já que o trabalho e as relações de produção nas comunidades agrícolas formam valores e estruturam uma organização social diferenciada do contexto urbano, que acaba se estendendo à organização escolar, exigindo, portanto, que as ações educativas no meio rural sejam norteadas pelas características que lhe são peculiares.
De certa forma, o ensino rural voltou-se mais para a formação de técnicos do que para o ensino fundamental e o ensino nas áreas rurais é o que apresenta maiores percentagens de reprovação, ausência às aulas, número de professores leigos e distorções na relação idade-série. Estas são algumas deficiências do ensino rural, assim como carência de recursos didáticos, a baixa remuneração dos profissionais, falta de esforço das autoridades e o não cumprimento da lei que permite a adaptação do período letivo ao calendário agrícola.
Diante disso, em relação à área da Educação Física podemos identificar inúmeros dilemas que como dito anteriormente se remetem a todas as áreas. Dilemas estes discutidos em sala de aula e vistos durante visitas na escola rural de Itirapuã. Essas dificuldades são as que levaram o professor a não conseguir preparar um plano pedagógico, não por culpa dele, mas sim de todo o funcionamento da escola em questão. Outra dificuldade é a precariedade dos materiais, como bola, quadra, redes entre outros. Pude observar a carência estampada no rosto de cada criança, sendo ela por vários motivos um tanto quanto absurdos como por exemplo, casos de violência sofridos por alguns alunos.
Outro ponto que me chamou a atenção foi quanto a receptividade dos alunos. Tenho que confessar que em um primeiro momento eu tive um pouco de receio de como os alunos iriam nos ver e comportar durante a aula. Porém, fui presenteado com uma receptividade sem igual, diferentemente de qualquer outra escola do meio urbano. As aulas foram ministradas tranquilamente e todos os alunos adoraram o “algo novo” que levamos para eles. Muitos outros problemas foram vistos fazendo com que aumente ainda mais a responsabilidade do professor com todos os seus alunos, não só como formador de opinião, mas também como exemplo de ser humano.

Contudo, deixo aqui minha satisfação de ter feito esta intervenção. Foi de grande valor não só curricular, mas para a vida. Apoio a continuação deste projeto em nossa área para que todos os docentes vejam o quão é necessário passar por essa experiência para que ocorram  mudanças do sistema educacional no contexto rural de forma mais rápidas e incisivas.  

Educação Física Rural possibilidades de ação

A educação física rural é um tema muito controverso na medida em que as possibilidades de trabalho são grandes, porém as dificuldades encontradas são muitas no processo de ensino-aprendizagem. A vida muitas vezes é tão dura com essas crianças que impõe tantos obstáculos que subtraem delas as possibilidades e o direito de ser criança, que é garantida por lei. A educação física tem papel importante nesse contexto podendo proporcionar ainda que de forma mínima da retomada da infância por parte dos alunos, não só contribuindo com aulas divertidas mas ao meu modo de ver incluindo-os como sujeitos ativos na sociedade com voz e opinião e não largados a própria sorte e também mostrar que mesmo com as limitações físicas do espaço é possível  adaptar as práticas de acordo com suas necessidades e anseios.
Em uma conversa com o professor ele nos revelou a dificuldade de desenvolver um projeto pedagógico devido ao que ele chama de “rotatividade de aulas” que significa não ter um horário definido para as aulas, muitas vezes chega ao ponto de só tomar conhecimento das aulas do dia ao chegar a escola para trabalhar. Esse é mais um ponto que precisa ser pautado em reuniões tanto da escola quanto da coordenação de educação do município. Foi revelado também em um tom mais informal alguns casos assombrosos de violência sofridas por alunos em suas casas, o que gera uma questão, eu acredito que em todo ser humano que ouça tais relatos, o que podemos fazer? Devemos permanecer omissos e de mãos atadas, como proceder diante de tamanhas atrocidades. No que tange essa questão acredito que na realidade da educação rural o professor tem um papel central por ter uma relação mais estreita com os alunos, servindo como exemplo e formador de opinião, não é possível afirmar devido a ausência de uma pesquisa sistematizada mas algumas vezes é possível notar a carência dos alunos de uma referência de disciplina e talvez até paterna.
Outro ponto que deteve a minha atenção foi a receptividade dos alunos com a nossa presença, até então éramos desconhecidos  e principalmente com as nossas praticas totalmente divergentes das que eles estão habituados fugindo do caráter recreativo que predominava, as aulas transcorreram de forma tranquila e o feedback que as crianças nos ofertaram foi extraordinário, claramente notou-se que elas tem uma facilidade de se expressar e formular raciocínios que chegou a surpreender e arrisco a dizer pelas experiências anteriores que tive,que os alunos tem a capacidade de se expressar com mais clareza e coesão que os alunos com maiores possibilidades de acesso ao conhecimento.

Acredito que todos os docentes em formação deveriam fazer ao menos uma intervenção em uma escola rural a experiência acadêmica é muito rica em discussões para se realizar e muitos pontos a se analisar, mas acredito que principalmente como experiência de vida para romper certas visões do que é mundo real e de como as coisas realmente acontecem em meio as dificuldades, se todos tivessem a oportunidade e o desejo de realizar visitas em escolas rurais talvez a sociedade enxergasse de outra forma o processo educacional.

Educação e educação física rural, desafios e possibilidades, um relato de experiência.


A ciência surgiu para explicar os mitos que perturbavam a existência  humana, veio substituir as crenças, a religião, Deus e todo o resto que não seguisse a lógica ou pudesse ser explicado material e matematicamente. Tornou-se referência, sinônimo de sabedoria, de verdade absoluta e de poder. Mas, seria mesmo capaz a ciência de solucionar todos os dilemas humanos ou ela se tornou mais um a ser questionado e entendido? Vivemos hoje num  mundo contemporâneo, regido pelo modo de produção capitalista e o avanço científico e tecnológico proporcionou os meios pelos quais esse sistema se legitima. A produção industrial e em larga escala tem como um de seus pilares o ganho de tempo, mas queremos tempo para quê? Quais as consequências deste processo? Quem está ganhando e quem está perdendo? Estamos de tal modo arraigado neste contexto onde a venda da força de trabalho é o único meio pelo qual nos sustentamos,  que o tempo que supostamente ganhamos é gasto nos preparando para sermos o melhor possível e os melhores no que fazemos, pois se não for assim não estaremos adequados ao sistema e, portanto não serviremos. Somos escravos sem correntes e sem chibata, não resistimos ao que nos é imposto e nem conseguimos olhar para além do nosso próprio existir. E as pessoas que são marginalizadas por este processo cruel e impiedoso?
Tais questionamentos tem feito parte da nossa formação docente, o que significa ser professor? Expresso aqui apenas opiniões e sentimentos, minha pretensão não é de convencer você que se dispôs a ler este relato de uma postura correta ou errada. Ser professor significa hoje pra mim estar disposto a compreender a vida, a pluralidade dos sujeitos e seus contextos, as várias infâncias, adolescências e juventudes. Ser professor deve ser mais do que adestrar, silenciar, endireitar. Ser professor deve ser mais do que ensinar um conteúdo que muitas vezes é organizado por pessoas que não fazem parte do universo escolar. Ser professor significa estar em constante processo de aprendizagem, de estranhamento do natural. Ser professor é mais que uma simples profissão é um sonho, um ideal e um desafio. Várias são as formas de ser professor e de ser aluno, também devem ser várias as formas de educação.
Frente ao progresso e à barbárie produzidos pela civilização fomos convidados a conhecer a realidade da educação rural, do camponês, população esta quase extinta pelo avanço, pelos aglomerados populacionais que denominamos cidades. A forma organização  desta baseia-se no trabalho e na produção em massa ao passo que no campo tudo passa por um processo manual e demorado sendo apontado como perca de tempo. O processo do êxodo rural ocorreu e ocorre na busca melhores condições de vida, como a moeda se tornou o meio de troca, a permuta (troca de um material por outro) também não faz mais sentido no campo e eles precisam se adequar a esta regra urbana, porém a realidade enfrentada por aqueles que vão para a cidade nem sempre é boa e acabam por não encontrar o que buscavam e nem conseguir os meios para retornar à sua terra, tamanha é a dificuldade que enfrentem.
Aos que permanecem no campo, aos poucos estão vendo sua cultura sendo dizimada pela chegada faceira da tecnologia, são taxados como atrasados e seu modo de vida com produção para subsistência não é valorizado, porém, ARROYO(1999) nos lembra muito bem que o campo está vivo e há mais vida na terra do que no asfalto da cidade. As formas de educação no campo não devem reproduzir os modos da cidade, o povo do campo tem tanto direito a educação básica como os da zona urbana, mas que seja uma educação que dê atenção a sua cultura e o seu modo de vida.
Pensar a educação física no campo é um desafio ainda maior, pois historicamente esta disciplina tem um caráter higienista e de domínio sobre o corpo para prepará-lo pra o trabalho. A partir da década de 80 começa se pensar novos pressupostos para nortear esse fazer pedagógico, mais ainda assim baseiam-se num conjunto de práticas corporais voltados para o contexto urbano, então como apresentá-la no meio rural, para corpos marcados pelo trabalho árduo, sol a sol, e crianças que ao invés de tempo livre para viver sua infância assumem a responsabilidade de adultos e cuidam da casa, dos irmãos e do trabalho?
Estivemos por duas vezes na escola municipal rural do Itirapuã, um tempo consideravelmente pequeno, mas que foi suficiente para nos proporcionar uma experiência de vida, pois não foi simplesmente algo que passou, foi algo que nos atravessou, marcou e agora faz parte de nossa subjetividade.
Como exímios moradores da cidade, também tivemos preconceito e resistência em relação ao contato com o campo, a distância e a dificuldade de deslocamento foram os primeiros empecilho colocados. Quebrado o pré conceito pra então termos um conceito, vimos que isso não é nada perto do que vivem as crianças que lá frequentam. A falta de recursos da escola é eminente, mas grandes são os esforços que buscam melhorias estruturais que acolha adequadamente os estudantes, a educação física compõe a grade de todos os alunos, mas os horários não são fixos, se adéquam as necessidades da escola.
Observamos crianças extremamente dóceis e calmas, um estranhamento visto que estamos acostumados à agitação e a desordem nas escolas da cidade, e ainda mais que isso, percebeu-se crianças carentes que neste momento ainda não conseguimos distinguir ao certo os porquês, apenas temos alguns indicativos e hipóteses. Em uma das aulas que ministramos o professor nos relatou ao término que havíamos trabalhado com cinco crianças especiais com autismo e déficit de aprendizagem, em conversas não oficiais no interior da escola nos deparamos com relatos de abusos, de jornadas exaustivas de trabalho infantil para ajudar na complementação da renda familiar e então pensamos o que fazer diante dessa realidade que já é difícil e ainda possui agravantes?
O trabalho que é realizado com essas crianças é de extremo zelo e cuidado, a escola atende cerca de 200 crianças residentes na comunidade rural e em um bairro da periferia de Lavras chamado Pipoca, o professor de educação física nos disse o seguinte: – O pouco que vocês fazem por menor que seja para essas crianças é muito – Entendemos isso como um recado para a necessidade de se olhar com mais atenção para a educação do campo que está sendo esquecida a margem da sociedade.
Finalizo com o adendo de que a escola rural não é melhor que a escola da cidade, mas também não é pior, ela tem uma população específica pra atender, e fazendo uso novamente das palavras de ARROYO (1999 p.34)  ela tem os seus valores singulares que vão em direção contrária aos valores burgueses, complemento, de progresso, de ciência e de tecnologia, talvez por isso esteja tão desvalorizada.


Referência: ARROYO, Miguel Gonzalez. ; FERNANDES, Bernardo Mançano. A Educação Básica e o Movimento Social do Campo: por uma educação básica do campo. DF: Editora Universidade de Brasília, 1999. vol.2

sábado, 20 de abril de 2013




Educação Física no Campo

1.0 Quadra  da Escola municipal rural Itirapuã

1.2 Lateral da quadra da escola Itirapuã, em que sua vizinha é a rodovia, não muros ou qualquer tipo de proteção que impeçam as crianças de correrem para rodovia.


1.3 Espaço anterior a quadra. Em suas imediações há matos e barrancos que segundo o professor da escola  habitam animais peçonhentos. Limitando as brincadeiras  das crianças (na imagem pelam corda) neste espaço.


2.0 Escola Particular vizinha a escola rural. Seu espaço e estrutura são grandiosos.


2.1 Ao fundo há um lago com pedalinhos pertencente a escola particular. É visível o contraste econômico (cerca de 300 metros de distância) entre as duas escolas, escola no qual ajuda de algumas formas a escola rural, doando materiais e abrindo as portas para os alunos.

sexta-feira, 19 de abril de 2013


ANÁLISE REFLEXIVA DE NOSSAS EXPERIENCIAS ENQUANTO                PROFESSORES EM FORMAÇÃO

por Diego Ramires silva santos



A educação do campo sempre foi um assunto muito sensível e pouco explorado na graduação, como visto em nossa Universidade. Universidade essa que se intitula universidade agrária, mas carece nesse aspecto de educação e formação básica.
 Durante nossas aulas foi muito abordada essa condição, pois tendo em vista as licenciaturas mecanicistas que não busca uma conscientização da diversidade que se encontra a sociedade. Em minhas viagens notei o caráter formador de opinião e detentor da verdade do professor. Notei a necessidade de uma nova ótica, pois como mostrado em sala, a realidade do campo e de sua gente é única. Nos textos trabalhados vimos que muitas vezes a educação física mantem um molde urbanista e sem tomar em conta o espaço físico, o meio ambiente e outras variáveis. Foram também lidos artigos e materiais que nos mostraram a condição de moradores e a infância no contexto rural. Condição essa que permeia sobre a dificuldade muitas vezes, permeia sobre a terra e a produção, permeia sobre a esperança.
O filme  Vidas Secas(1963) nos traz um pouco da condição que o Brasil se encontra, e sobre a negação das autoridades. Temas como humildade, submissão perante os detentores do dinheiro, um anonimato social imposto para a infância e outros , são vistos e discutidos. O ambiente e o clima redefinem muito a frequência e outros problemas frequentes, como encontrei algumas vezes em Campo do Meio. Apesar de ser um grupo multi-etário, e bem organizado, se mostraram bem abertos as atividades sugeridas por mim. Minhas propostas a inicio seria algo mais informal, mais presente na rotina das crianças, e busquei isso em alguns conhecimentos ,memórias e material escrito. Presenciei muito da cooperação e alegria mútua, talvez pelo ideal do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra que prega a ajuda e o companheirismo que muitas vezes acaba por não existir em muitas metrópoles e cidades atualmente. Não digo no sentido de que não se exista uma amizade entre as crianças, mas sim que percebi os mais velhos auxiliando os menores, os menores sugerindo adaptações e todos participando sem uma necessidade de vitória constante. Principio esse mostrado também na minha escolha de tema de trabalho sobre abordagens da educação física, os jogos cooperativos.
 Ao ter contato com esse material percebi muitas novas óticas e dinâmicas que aparentemente serão úteis. Mas além de ir dentro dessa perspectiva, também tomei base em suas criticas e assim consegui montar em essência uma linha de raciocínio que ao meu ver será muito proveitosa. Também tomei conhecimento de algumas novas abordagens da minha área, e isso se mostrou de muita valia, muita mesmo. Novas perspectivas e abordagens  sempre são bem vindas, e percebi que possuía uma lógica que deveria ser revista .
 Trazendo para as atividades em campo, notei também a necessidade do professor de um modo geral manter um elo de confiança e respeito com seus alunos. Não pode se ter uma relação superficial e quase nula, pois o processo educativo representa um ciclo não de transferência de conhecimento e sim de construção. Todo professor deve construir com seus alunos suas linha de pensamento e conclusões.
Além do mais, os filmes em sala de aula nos proporcionaram experiências únicas, pois com as imagens somos apresentados a não só o lirismo latente que remete ao campo, como  Baixio das bestas (2006).
Em uma experiência na qual não participei mas tomei nota graças ao professor, foi-me levado ao conhecimento um caso de violência contra uma menor. Não apenas violência , mas um transgressão que caminha muito além da noção de ética e moral. Acontecimentos como esse redefiniu muito o meu ver sobre a infância , a família e a vida. Infância essa em constante transformação, mas que não deve perder sua identidade de sujeito em formação.  Nas viagens também tive contato com os familiares , a família daqueles na qual eu interagia, e isso me foi muito proveitoso tendo em vista entender posturas e visões de mundo diferentes da minha. Relacionando isso ao material trabalhado em sala entendi a necessidade de uma escola que realmente faça sentido e que não apenas reproduza saberes já estabelecidos.
Tive contato com experiências e relatos de pessoas que como eu buscaram se aventurar numa tentativa de formular um projeto daquilo que ao meu ver seria interessante. Defrontando a realidade e o escrito, consegui também perceber que a docência no campo exige além de reflexão um entender sobre a didática como um todo.
 Assim tive contato também com o trabalho “extensão e comunicação” de Paulo Freire, que me foi muito útil , assim como as obras culturais trazidas pelo professor. Músicas, filmes, e poesias davam uma referencia daquilo que estudávamos e o que presenciei em minhas visitas, como a forma distorcida que as crianças do meio rural são vistas pelos moradores das cidades, apesar de que os municípios serem relativamente pequenos.
Com a produção cultural daquele contexto percebemos a dureza de uma vida pautada no corpo, sim com seus corpos como maquina de transformação do ambiente e capaz de produzir algo para se manter. Em um plano maior notamos a noção corpo  e terra, já que ela é a grande responsável pelo ganho de vida das pessoas ali. O corpo tanto na infância quanto já adulto tem caráter determinante no seu papel social.
Nesse cenário percebi que ainda não estava preparado para lidar com as pessoas com deficiência física. Com limitações físicas e motoras, me senti na necessidade de aprofundar meus estudos para utilizar-me da educação física como um meio de socialização e prática de uma atividade que mesmo adaptada tenha um significado.
Ao  fim da disciplina aproveitamos e conversamos com a diretora e alguns funcionários da escola que conheci junta ao grupo. Isso foi muito importante, pois tive contato com a filosofia e visão de mundo daqueles ali que convivem com as dificuldades e as vantagens de uma educação em um ambiente diferente daquele visto pela maioria na graduação.
Tive a oportunidade de conhecer alunos moradores da própria cidade que seguiam até a zona rural para estudar, talvez por medo da violência urbana, talvez por fatores pessoais, mas que se sentiam felizes naquele ambiente. Volto a retratar que não insinuo que na cidade não há felicidade, muito pelo contrario, mas ouso desafiar a lógica de que aquilo que é comum e não criticado. Como um todo a disciplina foi muito produtiva e consegui obter muitos frutos desse trabalho, e graças a esses ganhos acredito que hoje ser um sujeito melhor do que aquele que iniciou a disciplina.

Escola e Educação Física do campo: Possibilidades e Desafios


Ao pensarmos em Educação Física Rural, antes de qualquer coisa, ajuizamos contextos e conceitos que estão arraigado em nossas  “mentes urbanas”  implantados pela mídia e falta de informação. Deste modo concebemos uma ideia errônea e precipitada do que é viver e que tipo de educação é  ofertada nas escolas da Zona Rural.
Segundo Dayrell (s/d), existe em nossa sociedade uma escola homogeneizante, ou seja, uma determinada conduta educativa, que reduz a uma educação única e o sujeito a uma dimensão somente cognitiva, visando o conhecimento como um produto comum, ofertado a todos com as mesmas estratégias em busca dos mesmos resultados, desconsiderando assim de forma explicita a diversidade. Tomando como base tal argumento, nos norteamos -mais comumente- por dois caminhos: Assimilar as Escolas Rurais ao discurso democratizante, isto é, tornar seus processos educativos similares ao de todas outras escolas ou, remetermos a uma postura em que as escolas urbanas possuem melhores práticas pedagógicas e, por conseguinte as escolas rurais deveriam assemelhar-se com elas.
Seguir essas perspectivas implica em anularmos toda e qualquer compreensão do contexto sociocultural da escola rural, das diversidades dos sujeitos envolvidos nos processos de ensino/aprendizagem e de como esses dois elementos (escola e sujeito) se interligam.
A tentativa de fazer um currículo, mesmo na escola rural, baseado no sistema capitalista, gera uma inércia na Educação brasileira, pois não instiga a tomada da ação e do conhecimento para a vida, também não atinge a ação reflexiva para o desvelamento da realidade. (FREIRE citado por BARUKI et al, 2012).

É preciso que desfaçamos este antagonismo entre campo e cidade, como diz Baruki et al (2012), e que coloquemos no mesmo patamar de importância o espaço urbano e o espaço rural, afastando o modelo  de precariedade e falta de recurso, utilizando de políticas públicas eficazes.

A adequação de um currículo específico, de práticas pedagógicas e de professores ao campo fará com que seja possível atender expectativas, formar os alunos para que alcance objetivos pré estabelecidos, fazer com que os alunos estabeleçam laços com a realidade. É necessário fazer que os conteúdos sejam significativos e os sujeitos encontrem valorização e produtividade social no contexto e especificidades do campo. (CALART citado por BARUKI et al, 2012).

Buscar uma maior valorização dos elementos do campo permite não apenas deter o êxodo rural, mas também frisar a importância sociocultural destes sujeitos. Tornar a escola do campo como meio legitimo  para tais valorizações é também correlacionar isto a Educação Física.

A formação integral do sujeito só pode ser feita se abstiver do pensamento Cartesiano - separação de corpo e mente especialmente no processo de ensino aprendizagem - sobretudo se nos limitarmos à formação de crianças e de crianças da zona rural, que tem o Se-movimentar como componente principal de interação com o mundo. A Educação Física na escola do campo, deve atuar como um auxiliador de exploração do mundo em que as crianças vivem; considerando de forma incisiva a diversidade cultural ali presente, o espaço físico  ofertado, o contexto social que cada sujeito está inserido.  Ajudar a construir um sujeito critico e autônomo capaz de discernir as consequências, sejam elas positivas ou negativas, da massificação capitalista, consumista e urbana que influência direta ou indiretamente nos aspectos Zona rural, sejam eles jogos e brincadeiras ou mesmo aspectos econômicos.

A importância de se conhecer a realidade da escola rural ainda como discente possibilita a nós, uma analise mais critica e verídica da realidade, a aproximação legítima com as crianças destas instituições de ensino permite que questionemos coisa ainda não pensada, como o Papel da Educação Física na vida destas crianças e jovens? Como o pensamento de uma EF Renovadora cabe na Zona rural? E muitas outras questões.
Salientar a importância crucial de aliar teoria a prática a educação, especialmente neste caso, é desalienar - como dito no inicio deste texto- “mentes urbanas”.
 A necessidade de vinculação entre educação e as necessidades diárias unindo teoria e prática,destacando a utilização imediata do conhecimento para o benefício social, uma vez que “[...] o produto imediato da educação não é material, mas é socialmente útil, sob a forma de um serviço necessário à sociedade”.
(SEVERINO 2001, citado por BARUKI et al).

É pensar numa sociedade oprimida e subjulgada em seus direitos e especificidades no longo da história. Cabe agora perguntarmos: O que fazer com tais informações a respeito da escola rural? Quais concepções da Educação Física Escolar usar neste espaço?Seremos capazes de usá-las?

Regendo aulas em uma escola rural, pude perceber não tão somente da carência de material, que nesta instituição se valia de bastante recurso, ou mesmo dos déficits do espaço físico da escola e da quadra, que não há marcações, tabelas, rede ou  rede de esgoto mas  também dos déficits das crianças, não de aprendizado estabelecido por uma sociedade capitalista padrão, e sim uma carência absurda, de carinho, atenção, de proteção, de uma infância muitas vezes perturbada e/ou roubada. Há nelas, uma alegria simples em aprender o novo, participar e se incluir.
Foi possível ver o se movimentar do sujeito, não por um aspecto técnico, mas algo além disso, sujeitos esperando para formarem-se integralmente. Consegui ver, que sim, é possível e necessário que a Educação Física participe disso, confesso que ainda é preciso pensar e repensar, construir e desconstruir conceitos, elementos e visões para atuar de maneira coesa e benéfica na Escola do campo, porém o caminho de reflexão para este assunto foi aberto, basta a nós segui-lo ou não.

Bibliografia

Daolio, J. Escola como espaço sociocultural.
BARUKI,V; ALENCAR, J.M; CRUZ,K.R.A. Implantação da brinquedoteca enquanto espaço de produção em conhecimento em uma escola do campo: desafios e possibilidades. Motrivivência. 2012


Sobre o livro Educação Física Crítico- Emancipatória de Elenor Kunz: Um resumo


Histórico da criação da abordagem Critico- emancipatória e breve apresentação do autor:
A Educação Física Escolar vem numa constante busca de romper com os modelos tradicionais que permearam esta área de estudo até meados dos anos de 1980. Darido (2003) destaca que é nesse momento que a Educação Física passa por um período de valorização dos conhecimentos produzidos pela ciência. A partir desse enfoque dado à Educação Física, enquanto ciência com corpo próprio de conhecimento começam a surgir algumas abordagens pedagógicas da Educação Física Escolar. Conforme Darido (2003) todas essas abordagens tem algumas divergências, mas possuem um ponto em comum, todas estão em oposição à vertente tecnicista, esportivista e biologicista até então predominantes na Educação Física Escolar. Dentro dessas abordagens há vários discursos tentando justificar a importância da Educação Física na escola, outros se apoiando em áreas diversas como a Antropologia, a Psicologia, a Sociologia e também a Biologia. Embora com embasamentos teóricos diferentes, todas as abordagens apresentam significativas contribuições para a Educação Física Escolar.Outro ponto comum entre algumas abordagens é a referida busca pela autonomia dos alunos nas aulas de Educação Física, autonomia esta que não deve ficar somente nas aulas, mas sim formar o indivíduo que vai usufruir no seu tempo livre dos conteúdos aprendidos nas aulas de Educação Física para toda a vida.

Elenor Kunz
Realiza seu doutoramento em Hannover na Alemanha, sobre a orientação do professor Andreas Trebels e publica nos anos 90 no Brasil sua tese Educação Física : Ensino e Mudanças e uma obra a seguir denominada “ Transformação Didático pedagógico do Esporte”  estas e outras publicações deram origem  da educação Física denominada aqui no Brasil de Critica Emancipatória.



Abordagem critica emancipatória

A abordagem Crítico -Emancipatória enfatiza que o ensino nesta concepção deve:
ser um ensino de libertação de falsas ilusões, de falsos interesses, e desejos que são construídos nos alunos a partir de conhecimentos colocados à disposição pelo contexto sociocultural onde vivem visão esta originária de um mundo regido pelo consumo, pelo melhor, mais bonito e correto. Assim o ensino deve confrontar-se pela libertação destas falsas visões de mundo, libertar-se da coerção imposta por parte do professor e do conteúdo que se ensina. Essa libertação no sistema escolar deve ser pelo esclarecimento e pelo desenvolvimento de competências como a autoreflexão, que possibilita uma libertação livre da coerção(KUNZ, 1994, p.115-116).

Kunz (1994) nos esclarece que o conteúdo principal do trabalho pedagógico da Educação Física Escolar é o Movimento Humano, devendo enquanto estratégia didática passar pelas categorias de trabalho, interação e linguagem. Quanto aos objetivos primordiais de ensino propõem o desenvolvimento de competências como a competência comunicativa, a competência social, e a competência objetiva. Na competência social desenvolve-se pela tematização das relações socioculturais do contexto em que vive, dos problemas e contradições dessas relações, os diferentes papéis que os indivíduos assumem numa sociedade, no esporte e como esses se estabelecem para atender diferentes expectativas sociais. Para a competência objetiva vale que o aluno precisa receber conhecimentos e informações, precisa treinar destrezas técnicas racionais e eficientes, precisa aprender certas estratégias para o agir prático de forma competente. Na competência comunicativa destaca que a linguagem verbal é apenas uma das formas de comunicação do ser humano, sendo que as crianças comunicam-se muito pelo seu se - movimentar, pela linguagem do movimento.Quando ressalta os conteúdos da Educação Física Escolar (KUNZ, 1994, p.101) afirma que “não se elimina o interesse do movimento que é específico do Esporte, da Aprendizagem motora, da Dança, ou das atividades lúdicas enquanto conteúdo específico da área, porém colocas e o estabelecimento dos objetivos para desenvolver a competência de autonomia”.



Apresentação do livro
O livro organizado por Elenor Kunz e Andreas Trebels, denominado Educação Física Critico Emancipatório: com uma perspectiva da pedagogia Alemã do Esporte. Tem como colaboradores mais 7 autores  Claudia Kugelmann, Dieter Brotmann, Eva Bannmüller, Gerd Landau, Heide-Karen Maraun, Jürgen Funke-Wieneke e Ralf Langing, é constituído de 206 paginas é uma obra escrita por alemães para auxiliar a Educação Fíisca Brasileira, apresentado elementos para uma Educação Física Emancipatoria.
Para fins didáticos, agrupei o livro em duas parte que se seguem:

Educação física para quê?
o   Pedagogia do Esporte, do movimento Humano ou da Educação Física? Elenor Kunz
o   A concepção Dialógica do Movimento Humano- Uma teoria do “Se- movimentar”. Andreas Trebels
o   Musica e movimento- Uma introdução. Eva Bannmüller
O que mantém Crianças e os Jovens Mais Saudáveis? Dieter Brodtmann
A necessidade de se discutir o porquê da educação Física e por que de uma pratica pedagógica Critico Emancipatória;
Relação percepção e movimento humano. (Se- movimentar);
Educação Física além das Ciências da saúde;
Música como uma alternativa nas aulas de Educação Física.

Educação Física e relações socias
o   O que dizer sobre “ Aprendizagem Social” no Ensino de Movimentos e na Educação Física, e o que podemos Alcançar com Ela. Jürgen Funke-Wieneke
o   Educação física e pesquisa sobre gênero. Claudia Kugelmann
o   O esporte em mundo de vida. Gerd Landau
o   Escola em movimento. Ralf Laging
Educação Física para quê?
Bem se sabe que a educação física serviu e ainda hoje, em parte, serve ao setor esportivo. Até mesmo com a instituição da LDB deu por esse motivo, a má atuação no Brasil nas Olimpiadas de sydiney. Entrando a essa abertura que se teve com a LDB ,foi uma grande possibilidade para a estruturação para um a Pedagogia de fato da educação física. O que não aconteceu.
Sabemos que o programa da educação física, das aulas, se dão pelas preferências do professor ou até mesmo do humor do dia.
Essa pedagogia que KUNZ fala vai para além da didática e da metodologia
A pedagogia deve-se preocupar com questões mais amplas salientar o sentido/significado da Ed. Física na escola e buscar uma conexão com a teoria e o empirismo.
Quando ele nos diz de uma pedagogia critico emancipatória na Ed física ele pressupõe uma analise da cultura do movimento de forma que realmente o corpo e o movimento sejam elementos educacionais.
É Preciso que saibamos que há uma estreita relação do ser humano com o mundo, e que é caracterizado por este SE- movimentar. Um se movimentar nunca é neutro, ele é dirigido a algo, mostra algo. O movimento assim não é objeto , mas sim meio de pré condição para experiências humanas mais ricas e variadas.
Quando falamos dos Esportes, há uma perspectiva de movimento de forma totalizadora e objetiva. Uma busca pela causa-efeito.  Movimentos esportivos tem que ser bem sucedidos, estes não se desenvolvem de forma intuitiva. Como se houvesse uma obrigação com a objetivada e a clareza na forma idealizada, de recusa pelo erro. Não leva em consideração a percepção do sujeito, a percepção é parte integrante do movimento, não pode ser separados uma do outro.
Analisar somente a causa efeito é algo quase abstrato, não há objetivo definido. O movimento envolve Também a conduta humana e o entorno.
Ou seja,
·         Existe o ator do movimento
·         A situação referenciada a movimentos, que esclarece a permanente relação especifica do ser vivo
·         Significado do movimento, a intencionalidade do ator do movimento e o significado pretendido.

O esporte para Trebles, é uma interpretação apenas técnica para o movimentar-se humano. E limita-se para determinar e valorizar números.O esporte competitivo contemporâneo  tem duas regras básicas :

A sobrepujança: medida quantitativamente
Objetivação das condições: padronização.
E para o alcance, do que podemos dizer espetáculo esportivo, há uma maquinação tecnológica, para reparar o corpo dos atletas, aplicando leis da natureza para o ser humano.
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Ou seja, a comunhão homem mundo, descrita, por exemplo, por Merleau Ponty está descartada. Não é possível segregar sujeito de um lado e mundo de outro.  O próprio se movimentar é uma caracteriza natural do ser humano, é o meio pelo qual se garante como ser no mundo e no qual o mundo ganha contornos visíveis. O Se movimentar é um conjunto do pensar, do falar, em que há conexão ser humano e mundo. São significados as ações motoras para situações concretas, desta forma é necessário dar significância para os alunos nas aulas, situações que sejam  cabíveis a realidade e a individualidade do aluno para que haja significância, dar uma intencionalidade ao movimento.

Neste contexto de corpo como maquina, educação física como esporte, ainda não falamos do conceito de educação física saúde,levando isto para o contexto escolar,argumentos tradicionais dirão que as crianças atualmente são sedentárias e que a escola deveria preocupar-se com isso, fazendo dela um ambiente em que possam se movimentar mais, melhorar seu sistema cardiorrespiratório e muscular além da melhoria da flexibilidade e de habilidades gerais, ou ajudar na postura e no fortalecimento da coluna prejudicado pela mochila e tal, ou mesmo usar a Ed física como via para a libertação das tensões socioculturais.
No mercado da saúde, mídia e etc é o corre, e por isso que nos agarramos mais facilmente, o mais fácil de realizado , algo publico e notório, que me pouco tempo surge efeito e que temos certezas que estamos fazendo certo porque é o que  o pensamento tradicional.
Ou seja, quais elementos são utilizados para se saber o que se é saúde ou não?O que se quer dizer que são não elementos biológicos que determinam isso.
Sobretudo as vivencias sociais são elemento para a conservação da saúde.
Sentir-se aceito pela comunidade que pertence e interagir-se da melhor forma, é para jovens e crianças adquire o Maximo de importância para saúde do que corridas, academias etc, que são sugeridos pelo mercado como redutor de risco da saúde.

A educação física que se tem atualmente faz com que jovens e crianças sejam indesejados, frustrados e forçados a fazer algo que para eles não tem a menos significação. É responsabilidade da educação física proporcionar que as crianças se sintam integrados socialmente e que elas se sintam importantes para o grupo e necessários na condução das atividades em participam.

Bem, a musica é um elemento que recebe pouca atenção na escola, principalmente quando se trata da educação física, e quando ela esta presente é apenas para estimular ou para perder o medo nas tarefas mais difíceis, ou como meio de compensação.
A educação física orienta-se pelos esportes e não pelas próprias preferências dos alunos ou de desenvolver múltiplas atividades corporais.
A musica tem uma relação direta com a percepção que já havia tido antes e como elemento de integração social, então por que não usá-la?



Educação Física e relações sociais
Como já mencionei, as relações sociais tem uma importância significativa na saúde do individuo e no próprio desenvolvimento do se -movimentar.
Desde do nascimento o homem percorre uma trajetória de relacionamento com o outro e se adéqua a partir do que a sociedade lhe oferecido.
O processo de ensino que levam ao desenvolvimento social é o que tem como base o conceito de aprendizagem social.
 Praticar esportes e mover coletivamente valem também como um elemento significante na aprendizagem social.
O forma que essa aprendizagem social é dada pelos esportes e a relação com a didática, dependendo de como são abordados existem diferentes fundamentações e sugestões para o agir concreto.
Um contexto funcional ou intencional de se entender a educação.
Os funcionalistas da pedagogia do esporte defendem que o desenvolvimento do esporte contemporâneo está impregnado em seu trajeto de sabedoria e espírito social. Defendem que aqueles que praticam o esporte devem agir de acordo com as regras estabelecidas.- espírito de equipe. E uma vez adquirido essas normas ela deve ser transferidas para os outros relacionamentos humanos.
Os intencionalistas afirmam que os  essa imagem é bem diferente da realidade do esporte como ele é.e  obviamente se aprende mais do que  se deveria aprender. Isso porque tais regras são caracterizadas por ferir regras, por ser excludente.  Se não for possível ver que crianças e jovens são induzidas a praticarem esportes de um currículo submisso e oculto, não poderá ter alcance de aprendizagem social.
A aprendizagem social nada mais que, uma predeterminação pouco transparente e nada consciente  que há no processo de civilização e socialização humana.
E cabe a pedagogia critico emancipatória fazer que os jovens desenvolvam uma consciência  esclarecida desta predeterminação e determinarem a sociedade em que vivem ao invés de serem determinados por ela. Na realidade é essa emancipação social que  constitui o objetivo central da aprendizagem social.
O esporte, para Landau, não é algo natural, mais uma construção social. E quem contribuiu para sua difusão são os homens com determinados interesses, poder e pertencer a determinadas camadas sociais, são relações, sendo assim , padronizadas...se orienta pela educação intencional.
O aprender social esta alem das praticas esportivas, o cotidiano escolar também se apoia em regras, privilégios e submissões  e prescreve papeis sociais, assim que o ambiente escolar for democratizado os alunos passaram pelas experiências sociais sem que tenham que realizar uma pratica esportiva.
Quando se fala em sociedade, é fato que devemos salientar a luta de gêneros, se assim posso dizer.
O esporte sempre foi negado ao sexo feminino, tais como ciclismo, futebol etc porque acreditava-se que prejudicaria a mulher fisicamente e na capacidade reprodutiva. Essa separação de masculino e feminino domina o cotidiano reconstituído pelas leis e resoluções mais principalmente pelos costumes.
Essa diferença de papeis é denominada conduta de gênero e portanto vale dizer que nós não temos, fazemos a nos fazemos a nossa sexualidade nos encontros e confrontos sociais.
Entrando  nos últimos anos diz-se que há um tratamento igualitário entre os sexos, por exemplo com a entrada das mulheres nas Olimpíadas de Sydney e esporte exclusivamente masculino, como o levantamento de  peso e futebol e tento premiação para a melhor atleta e etc.
É possível compreender  porque meninas e meninos se deixam levar, principalmente na idade infantil e puberdade. Há uma opressão social na formação da identidade. Na primeira infância é fácil ver meninas e meninos brincando juntos, mas logo os meninos começam a preferir o futebol procuram lugares e grupos para praticarem, enquanto as meninas ficam retidas em casa, dedicando-se menos a atividade de grande movimentos intensos e sendo conduzidas ao balé ou as aulas de piano.
Ser reconhecido, pelo jovem, como menina ou menino, significa para muitos o ganho da própria segurança do seu eu, o modo que se vestem, se movimentam ou praticam esporte fazem parte deste contexto. O próprio clichê sobre o corpo em que meninas devem ter um corpo jovem e sexy e os meninos com a musculatura definida fazem com que se gaste tem pó e dinheiro para o alcance deste padrões, em que o insucesso que as vezes é previsível acaba pela colocando a primeira crise de identidade.
As própria conduta motora são tipicamente relacionado ao um sexo ou a outro, e é fácil ver isso em espaços públicos,  lugares onde se pratica skate, bike  que são atividades marcadas pelo risco e exibicionismo, não há presença marcante de meninas.
Quando trata-se de esporte de alto rendimento a mídia dedica tempo e espaço as reportagens de atletas masculinos e quando o fazem com mulheres  é uma comparação de rendimento com atletas homens.
O ensino da Ed. Física tematizando adequadamente as atividades pode fortalecer a identidade sexual destes jovens, e que as atividades tradicionais e alternativas devem ter seu espaço para serem dialogadas e criticadas especialmente em relação ao pré determinismo sexual imposto.
Desafiar meninas nas aulas de Ed. Física para que ela ampliem sua gama de movimentos, e possam descobrir sua força, agilidade.
Nesta mesma sociedade, em que há dicotomia entre os sexos, é uma sociedade industrial em que o desenvolvimento das tecnologias faz com que o corpo biológico fique sedentário. Neste mundo tecnoligizado o corpo é quase que um objeto antiquado em que o homem se vê forçado a movimentar-se se não atrofiara se corpo.
O movimento humano ele se faz, a partir da tecnologia que o rodeia, e utilizar tais aparelhos para aumentar o limite do seu corpo é perfeitamente aceitável.
No setor de alto rendimento, isso muita mais visível, em que a tecnologia desenvolvida em laboratório, vê os corpos de atletas como verdadeiras maquinas, e trabalham para o seu Maximo limite de desempenho.
Neste mundo tecnoligizado, cada vê mais, as crianças, filhos únicos, vivem sem movimento, em seu quarto aproveitando dos brinquedos e aparelhos eletroeletrônicos e sua única vivencia com o movimentar e socializar  é
realmente na escola .
porem somente as duas horas aula de Ed. Física na escola não são suficientes para  resolver o problema da carência de movimentos, pelo contrario salienta mais essa carência, onde o menino fica horas sentado durante outras disciplinas.
Uma solução para isso é a Escola em MOVIMENTO.
É uma possibilidade para um maior movimentar-se na escola. não consiste em apenas  aumentar a oferta de atividades de movimento e esporte, mais mudar o cotidiano escolar, fazendo da escola um espaço para o movimento.
As atividades com movimento ultrapassam as perspectivas da educação física e encontram lugar em todas áreas da escola, salas de aula, pátio, nos corredores.
Deve-se ser levado em consideração o contexto da escola, suas condições, e deve haver uma abrangência muito maior de atividades que envolvam movimentos. O objetivo da escola em movimento não é aumentar as condições motoras dos alunos, mais proporcionar um modo mais espacial de vivencia para eles. O se-movimentar é um dialogo corporal com as tarefas do cotidiano escolar.
O ensino disciplinar e o extra disciplinar devem manter-se em equilíbrio, para que desta forma a aprendizagem social, que se dá pelo diferente e pelo outro seja reforçada. A aprendizagem tem uma relação direta com o corpo humano. Caracteriza por ter um vinculo com o se-movimentar.
Aprender é uma experiência corporal-sensível, vinculada ao mundo.
Os alunos trazem consigo concepções de movimento e preferências e experiências e é necessário que a escola absorva tais conhecimentos.
O confronto que se tem da escola movimento com a educação física é que com ampliação da oferta de movimentos a educação física já não seria necessária.
Por outro lado com a implantação da escola movimento a educação física ficaria responsável pelo desenvolvimento de habilidades e  competências , ou seja a padronização e orientação aos aspectos técnicos.